16 de outubro de 2012

Até que...


Eu sempre estive no controle da situação. Lia meus próprios livros, comia as minhas invenções. Até que... ele me atropelou. E quando digo “ele”, refiro-me ao amor. Não sei se foi eu quem atravessou o seu caminho, mas independente disso ele já tem um histórico suspeito na minha vida.  Sim, o próprio, que provavelmente já tirou algumas noites do seu sono.

Despe minha roupa, exige minha alma. Me faz clichê. Leio os livros pelos quais  ele se interessa, e o creme de leite que eu tanto detestava, hoje faz parte de 80% das minhas receitas.

Até que... a gente sofre qualquer decepção. Mas perdoa. Afinal, é tão comum o choque.

Depois do choque a colisão. O desastre... a hemorragia e fim. Estanco  o sangue, passo meu batom vermelho e saio caminhando.

Até que a gente ama, por isso suporta,  por isso insiste.
Até que... a gente cansa.

- depois a gente chora. Mas isso fica pra próxima. 

5 de setembro de 2012

Sobre as minhas, as suas, as nossas...

Perdas.

Alguém um dia já me disse que a gente só morre nessa vida quando já perdeu demais, porque no peito cria um buraco tão, mais tão grande, que as coisas perdem o sentido. Mas isso não é coisa de se avisar assim , na cara larga. É coisa pra sentir.

Uma foto, uma música, uma frase, uma rua, uma estação, um cheiro. Não tem jeito! Quando se instala a sessão "nostalgia", a gente não sabe se chora ou se ri. A gente repete como se fosse a segunda verdade mais certeira da vida: " ah, como ontem foi bom! Eu era feliz e não sabia"...

É de dar dó... ficar revirando o olho para a lágrima ser sugada novamente pelos olhos.
De ficar engolindo o que não existe na garganta, digo, o nó.

Eu lamento, e muito. Pelas minhas, pelas suas, pelas nossas NECESSÁRIAS perdas. É doído, mas preciso que a gente se perca, e se esqueça vez ou outra que perdeu. Carece da gente esquecer que tudo tem validade, até nós mesmos, que é pra vida e os planos continuarem tendo sentido.

Eu sinto falta. Mas falta não mata. Até que provem o contrário.
Eu sinto por velórios que não faço parte. Choro feito gente que é da família.
Eu sinto pelo amigo que virou as costas. E sinto mais por perceber que amigo de verdade é aquele para o qual eu virei as costas.
Eu sinto por mim, por você, por nós.

Eu sinto a saudade. Saudade... palavra essa que só existe em português. Mas que dói pra todo mundo igual.

- e só espero ter bons motivos para sorrir e preencher todas as lacunas. Seria justo acordar e sorrir. Acordar com você para sorrir. E esquecer a dor. Sorrir pra você. Sorrir de mim. Sorrir de você, pra mim, por nós.



20 de agosto de 2012

Mas se ele vier, que coisa linda, que coisa louca...

Já tive um filho, escrevi um livro, estive em três países, me divorciei. Tomei o primeiro porre, já fui ruiva, aprendi alemão. Mudei de profissão e tive um, dois, três cachorros. Parei na delegacia por causa alheia, evitei um acidente, escrevi quatro, cinco... muitas cartas de amor. Vivi alguns amores, chorei por todos eles, mas fui eu quem bateu a porta.

Deixei de ver a sua vida acontecer, para ter o cuidado de recolher cada imagem, cada rosto... mas eu sinto mesmo a falta é de me enxergar nas suas pupilas. Estar dentro do seu olhar, pro coração não bater por hábito, e sim, por puro prazer...

Deixei de ver sua vida acontecer, pra cuidar de viver histórias, peripécias e poder contá-las quando você chegar... Atrasado, como sempre. Dessa vez, não espera muito tempo pra dar vida a quem precisa. A quem empina o nariz para o mundo, mas escreve qualquer coisa sentada no banco de uma praça, como a pessoa mais solitária do mundo.

Vem enquanto é tempo da gente viajar para o Japão, assistir os filmes que estão para serem lançados... rir da vida alheia, de nós mesmos. Chega enquanto o corpo é firme, enquanto sei falar de amor e meus cabelos são compridos. Vem enquanto estou sóbria, e a vida não tirou esse meu jeito de sair acreditando em quase tudo, em quase todos...

Chega cedo, porque tardar pra viver é feito gente que anda de ônibus reclamando da vida, escutando funk e usando crocs...

Chega... e quando os meus braços alcançarem sua distância... (...) isso é tema pra outro texto.

3 de agosto de 2012

Tive um vizinho que gritava com a namorada ao telefone, sem se importar que o prédio inteiro ouvisse: “Não sei o que fazer! Fico mal contigo e fico mal sentigo!”. Sempre achei essa situação desoladora, e nem estou falando do português do sujeito. É duro ter apenas duas alternativas (ficar ou ir embora) e ambas serem terríveis.


Martha Medeiros

30 de julho de 2012

Milhares de amores...

todos perdidos.

Estavamos no metrô. Sentados um de frente para o outro.
Eu senti quando seus olhos demoraram em mim, como da outra vez aconteceu com outro moço no ônibus que ia para o centro.

Brincamos durante todo o percurso de desencontrar os olhares, e quando eles inesperadamente se encontravam, mudávamos de direção. Assim como da outra vez na fila do banco.

Restavam duas estações, estava certa que desceriamos no mesmo lugar. Talvez você me desse passagem, perguntasse as horas, comentasse do tempo. Era assim que começava, nos filmes de amor que eu sempre assisti.

Você tirou o celular da mochila. Fiquei sem reação. Será que você pediria meu número? Não, não. Não podia ser isso. Até porque eu passaria vergonha ao ter que confessar que ainda não decorei meu novo número. E talvez nem desse tempo de procurar, porque restavam duas estações.
Foi assim, da outra vez com um moço parecido com você.

Levantou. Foi embora.

Mas antes, sorrimos um para o outro.

E assim acabou mais uma história de amor que nem ao menos começou.

Agradeço vó, por tudo.
Pelas sopas, pelo feijão, pelas sopas de feijão.
Pelas invenções medicinais para que eu comesse tudo o que tinha no prato.
Por me ensinar a cozinhar, e elogiar as minhas inovações na cozinha, ainda que eu reconhecesse que nenhum ser humano merecia comer aquelas coisas.
Obrigada por concordar comigo que os móveis tinham que mudar de lugar constantemente. Por cobrar a blusa de frio, pontualidade com os remédios, pelo carinho...
Obrigada, vó, pelas histórias compartilhadas, ainda que tantas e tantas vezes. Por não me denunciar quando roubava no dominó. Pelo dinheiro sorrateiramente emprestado sempre que eu ia sair.
Te agradeço pelos bolos de chocolate. E pelos de cenoura também.
Agradeço também, por dançar comigo no corredor. Pelos chás oferecidos, sabendo sempre que eu recusaria. Pelas broncas. Pelo zelo.
Por me chamar para dormir junto quando tinha pesadelos. Pelas cantorias na rede. E gritar meu nome para avisar quando a novela vai começar.
Até mesmo por me assustar quando acordei no meio do noite e vi que alguém velava meu sono quando minha perna estava machucada da mordida do cachorro. Que Deus o tenha.
Por correr atrás de mim sem dentadura e me fazer perceber que eu corro bastante.
Pelas idas ao cinema, para que você dormisse com a pipoca na mão.
Pelos conselhos amorosos, quando poesia ou música nenhuma dava jeito de me alegrar...

Talvez esses detalhes sirvam mais para que eu lembre a mim mesma o quanto sua presença é tão importante nos meus dias, do que um verdadeiro agradecimento explícito. Que essa fina fresta de lembranças te faça terna, eterna em mim.







10 de junho de 2012

CTRL-Z.Controle.

Ela correu. Correu de tudo que fosse capaz. Tudo que fosse obstáculo. Só não correu mais do que ele quando perdeu o juízo e jogou o carro contra o muro, destruindo a lataria, junto a qualquer pieguisse romântica que haviam construído.Quase nada restaria.

O que era de prender a vista, a respiração, a mão e o coração, agora é de surpreender. Me perder.


8 de junho de 2012

Re (volta)

Era de se esperar que fosse levar qualquer pedaço quando partisse, qualquer parte boa.
Era de se notar a lacuna. A pendência. Até faltou paciência pra seguir os dias...
Era pra chover forte, salgar o rosto, molhar a camisa.
Era também de culpar. Desculpar. Fazer carnaval pra chamar atenção.
Fingiu nem ligar. 
Nem notar.
Nem amar. 
E contentou-se por fechar as cortinas aquele que outrora foi protagonista. Apagou as luzes e já partiu levando malas, versos e lembranças. 

- Só não perca a passagem de volta. 

4 de junho de 2012

Nova(mente) a canção



O que era dissabor agora é cor. Se (re)fez o amor.

Que venham as boas novas; que sejam todas bem-vindas.
Já se foram as coisas findas! E ficou o que é pra ser e achavam que já era. E ficou pra durar. Pra crescer.

A casa acordou! O dia já nasceu!

 Vejam: já dançam ao ritmo da música  aqueles que haviam esquecido a canção...

- feita a oração, lembrou dele, fechou os olhos e sorriu.

3 de junho de 2012

Para me encontrar

Não são poucas as vezes que me procuro em suas linhas. 
Procuro algo discreto, sútil, só nosso. Algo como um código para me saber ali. Para me sentir aí.para te manter aqui. E nada. 
Parece que me perdi nas suas páginas. Desfragmentada. Desapareci. Me esqueci. Me esqueceu. 
Ainda usa minhas frases para adorná-la? Minhas músicas para conquistá-la? Me perdi. Se perdeu. 
Vez ou outra ele senta no sofá,assim como eu, muda os canais sem nada ver, e se pergunta : " o que foi dela?".


-ainda guardo as primeiras palavras. O sorriso torto,aberto, nada contido. Ainda mantenho o cabelo cacheado e uso reticências demasiadamente. 


Poucas coisas mudaram. Mesmo poucas, já levaram metade de mim, talvez tudo de nós. 


- e você sorri ao ler "talvez". 


Escrevi para me encontrar, sabendo que só me perco mais.